Kael seguiu o Guardião através de ruas escondidas e vielas silenciosas, até chegarem a um edifício antigo, coberto por trepadeiras que pareciam dançar ao vento. A fachada escondia portas pesadas de madeira, que se abriram como se reconhecessem o destino do garoto.
Dentro, o espaço era vasto e vazio, exceto por plataformas suspensas e cordas que vibravam levemente. Um ar antigo e carregado de energia musical preenchia a sala. O Guardião fez um gesto, e notas invisíveis começaram a flutuar, mostrando frequências de luz que Kael jamais imaginara existir.
— Este é o templo do som — disse o Guardião, com a voz profunda e ressonante. — Cada som possui peso, cada vibração pode moldar a realidade. Antes que controle sua Voz, precisará compreender o mundo que ela pode criar.
Kael olhou para suas mãos, sentindo uma energia pulsante em cada dedo. Tentou reproduzir a nota que despertara na noite anterior, mas o som saiu irregular, cheio de falhas e ruídos. O chão tremeu suavemente, e ele percebeu que seu próprio corpo reagia às vibrações que criava.
— Primeiro, aprenda a sentir o som dentro de si — explicou o Guardião. — Feche os olhos, respire, e deixe cada frequência percorrer seus músculos, seu sangue, cada célula. Apenas então poderá moldá-la.
Kael fechou os olhos e, pela primeira vez, tentou escutar não apenas com ouvidos, mas com o corpo inteiro. Sentiu o ar vibrar, a madeira sob seus pés ressoar, até os ossos parecerem cantarem. Cada nota era uma cor, cada vibração uma forma.
Horas se passaram. Kael começou a perceber pequenas nuances: um tom subindo suavemente criava calor no peito; um grave profundo fazia os cabelos arrepiar. Ele entendia que a música não era apenas som, mas **linguagem, poder e consciência**.
O Guardião observava silencioso. Então, apontou para um grande cilindro de metal no centro da sala. — A próxima etapa é simples: ataque o cilindro com sua voz. Transforme intenção em vibração. Não pense, sinta.
Kael engoliu em seco e se aproximou. Inspirou profundamente e deixou a voz sair, não como um grito, mas como **uma corrente de energia moldada pelo coração**. O cilindro tremeu, emitiu um som harmônico que se espalhou pela sala, fazendo paredes e cordas vibrarem como um instrumento gigante.
Pela primeira vez, Kael viu o efeito de sua Voz como algo mais que simples som. Cada frequência gerava efeitos, ondulações visuais, harmonia e tensão ao mesmo tempo. O Guardião finalmente sorriu.
O primeiro passo na jornada de Kael havia sido dado. Ele não era mais apenas um garoto que gritava — começava a compreender que sua Voz poderia moldar o mundo.
Nota: Este episódio introduz o **templo do som** e o primeiro contato de Kael com a prática do controle vocal. A narrativa reforça a ideia de que cada frequência é uma extensão da consciência, e prepara o terreno para o treinamento intenso e as primeiras batalhas.